Viva a sua vida, não a dos outros!

 | Sobre o limite da exposição leve ou exagerada da vida moderna, numa internet que confunde o que é virtual e real e o que é realmente viver a vida.

Viva a sua vida, não a dos outros

Esses dias assisti novamente ao filme Matrix, e aquela história mexeu comigo. Aqui não tem o conteúdo do filme, nem é essa intenção. Esqueço no dia seguinte o nome dos personagens e até o enredo para te contar, se não escrever logo uma resenha - memória ruim a minha! Melhor: essas informações não me agregam muito, mas sim o que provocam no meu pensar. Qualquer semelhança nos escritos deste post com a sua ou a minha realidade é mera coincidência, certo? Alguém aí poderá se irritar com meus devaneios - "Mas era só um filme Edel - como você vai tão além, talvez até para um caminho nada a ver?" Não é só uma questão desse filme, mas também um filme chamado "stories" - que muda a cada dia e vicia algumas pessoas que me indignou e inspirou a escrever tudo isso, e mais tantas outras histórias que se somam e aparecem aqui e ali. Daqueles textos que brotam do fundo da alma, juntam cacos e pedaços e resultam em Crônicas da Edel - categoria Desabafos.

Às vezes parece meio inconcebível no mundo moderno em que vivemos, uma pessoa conseguir não existir na internet. Seu nome não aparecer nas buscas do Google. Não ter a cara exposta em nenhum vídeo no YouTube. Não ter seu currículo profissional no LinkedIn. Não ter perfil em Facebook. Nem fotos pessoais no Instagram. Não ter site nem blog, mas saber trabalhar muito bem com internet, entender de todos esquemas. Não aparecer nem pessoal nem profissionalmente num espaço onde tudo acontece. Assim somos treinados a pensar: a internet - um espaço onde tudo acontece.

Mas pasmem: se elas existem, estão escondidas por aí. Talvez seja alguém da sua rede de contatos "real". Um amigo, um parente, um conhecido, um colega do trabalho, da academia ou da faculdade. Minha pergunta é: como será que elas vivem? Espionando de forma invisível até sentirem a necessidade de também entrar no jogo que a maioria está jogando? Ou ficarão para sempre invisíveis para o mestre Google e eternos desconhecidos para nós, que estamos dentro desta matrix?

Só que a realidade dói quando nos perguntamos: será que não somos nós os ignorantes e são elas - se realmente existem - é que sabem das coisas? Por que se expor tanto? Por que essa necessidade de compartilhar tanto a vida em momento real? Por que parece que todo mundo virou professor de alguma área do conhecimento? Por que em algum momento tudo vira livro, curso, palestra ou workshop?

Se essas pessoas invisíveis acham um saco ver aqueles memes ridículos na timeline do facebook, foto de pet e bebê recebendo milhões de likes e comentários, talvez elas tenham razão.

Se elas preferem ir pra academia, correr ou andar de bicicleta, namorar, fazer sexo, tomar cerveja, comer uma pizza, ler um livro, brincar com o cachorro, tomar banho de piscina num dia de calor, se divertir e rir de coisas bizarras e ridículas com os amigos, que estão ali, ao redor delas, e não iludidos com aqueles 5 mil amigos virtuais que nunca curtem um post, estão ali por estar, assim estando, será que não é o caso de lhes dar razão?

Ver a intimidade das pessoas e o jeito de lidar de forma desorganizada e estressada ou organizada demais e fantasiosa com a vida, é de se questionar e concluir: viva a sua a vida, não a dos outros. Isso desanima e coloca nossas referências em cheque: ou elas são perfeitas demais ou sem noção demais. Não há equilíbrio. Admirar o trabalho de alguém é louvável, admirar a forma como ela encara a vida é outra história, pode gerar dúvidas e frustrações.

Por que hoje em dia as pessoas se separam tão facilmente de seus cônjuges? Porque é difícil para o coração humano conviver, confiar, tolerar, relevar, PERDOAR. Às vezes nós o tornamos impossível, e aí é como nossa relação com esse mundo onde todos falam a mesma história só de maneiras diferentes e criativas. Precisamos acreditar?

Será que não somos todos iguais nesse ponto? Quando todos só não falam a mesma língua, fazem as mesmas coisas, se comportam do mesmo jeito por conta de não estarem no mesma estação no decorrer da viagem? Onde fica a autenticidade à essa altura do caminho?

Por que comecei descrevendo as supostas pessoas que são inexistentes na internet? Porque se elas realmente vivem mais a alegria e a dureza de suas próprias vidas, convivem com seus problemas, se divertem para levar a vida menos a sério, assim vivendo mais a sua vida do que a dos outros, nem que seja quebrando a cara de vez quando por não ter nenhum guru conselheiro (e quase "marketingcamente" perfeito), talvez elas é que estão realmente vivendo.

Se elas realmente existem, independente do seu conceito sobre exposição pública ou privada na internet, se elas conseguem e vivem de bem com isso, por que a maioria não consegue viver sem atualizar seu stories várias vezes ao dia? Para quê as pessoas curtem ver os bastidores da vida, de quem está por trás daquele perfil, tipo big brother? São desocupados, que não tem mais o que fazer?!

Será que agora, além de viver, trabalhar, todo mundo é professor com as experiências da vida (com ou sem didática alguma) e quer viver como celebridade? Às vezes eu penso que mergulhei no mundo errado por ser tão do contra, cheia de mimimi e não-conforme.

E quanto a nós? Vamos parar e pensar um pouco sobre isso, sobre o objetivo real que nos leva a exposição leve ou exagerada, e até onde isso é saudável ou uma fuga da nossa vida, para viver um sonho, uma fantasia, um conto, uma crônica... Não é porque o mundo faz que temos de fazer também. Não é porque nos dizem que é assim que temos de fazer dessa ou daquela maneira. A escolha cabe a nós. Somente a nós. Tão complicado assim. Digo que meu papel aqui é trazer soluções para tudo, mas se não conseguir fazer as pessoas refletirem sobre suas vidas, qualquer solução torna-se descartável. Posso ser divertida nos vídeos, mas aqui a intenção é ser profunda e quase sempre tão profunda que parece meio louca. Por vezes indireta bem direta. É para você e para mim. Que seja assim, eterno enquanto dure, pois não fiz promessa nenhuma por aqui.

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